O RÁDIO E A GRAVAÇÃO ELÉTRICA
Em meados da década de vinte, a indústria fonográfica ganharia um novo impulso com uma descoberta revolucionária: a gravação elétrica! Seu desenvolvimento foi devido, em grande parte, ao surgimento do rádio. As primitivas transmissões radiofônicas criaram um considerável degrau de qualidade sonora entre o disco e o programa de rádio. A questão era bem simples: a música levada ao ar na década de 20 era tocada ao vivo. O som que chegava aos receptores era bem mais fiel que a deficiente gravação mecânica de então.
Resultado: o ouvinte sempre se decepcionava ao adquirir a gravação da música que ouviu pelo rádio.
Essa situação, todavia, durou pouco. A Western Electric Co. desenvolveiu em 1924 a solução para o problema. Utilizando-se de circuitos eletrônicos com amplificadores e microfones, com base nos princípios do rádio, passou a ser possível registrar a mais ampla gama de freqüências sonoras, elevando a qualidade do disco a um nível infinitamente superior. Em verdade, os estudos que levaram à gravação elétrica começaram em 1915, mas foram interrompidos durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1925 a inovação era lançada comercialmente. A Victor Talking Machine e a Columbia obtiveram as licenças para a industrialização dos novos discos. Para que tenhamos uma idéia do que foi o impacto da inovação, há menos diferença entre um LP e um CD que entre um disco mecânico e um elétrico. Basta comparar.
O salto foi verdadeiramente assustador, verdadeira bruxaria moderna para os padrões da época! O disco elétrico acabou por revolucionar o gosto musical e a própria maneira de interpretar. Já era possível registrar o som com suavidade, abrindo caminho para os cantores de voz aveludada e orquestras melodiosas. Há uma grande diferença, por exemplo, em ouvir Carlos Gardel antes e depois da gravação elétrica. No Brasil a gravação elétrica somente se iniciou em 1927, inaugurada por Francisco Alves com o disco Odeon cujos lados eram "Albertina" e "Passarinho do Má".
O novo sistema possibilitou o surgimento do cinema falado. Em 1927 foi lançado pela Warner Brothers o primeiro filme comercial sonoro: "O cantor de Jazz" (The Jazz Singer), estrelado por Al Jolson. O filme foi inteiramente sonorizado por discos de 16 polegadas, cuja velocidade de reprodução era de 33-1/3 RPM (embrião do LP?).
Embora o sistema de gravação tivesse experimentado tanta evolução, os aparelhos reprodutores continuaram quase os mesmos, tendo um desenvolvimento mais vagaroso mas não menos fascinante.
Os Aparelhos Reprodutores
A despeito da rápida evolução do sistema de gravação, os aparelhos reprodutores tiveram um aperfeiçoamento mais lento. O disco carregava mais tecnologia que o toca-discos.
Desde os tempos de Edison, o aparelho reprodutor de sons era composto de um suporte giratório (impulsionado por motor ou manualmente), uma agulha leitora, um diafragma e uma corneta, assim permanecendo até mesmo com o advento da gravação elétrica.
Os mais marcantes aperfeiçoamentos foram verificados na parte mecânica dos aparelhos, quando passou a ser usado o motor a corda (Spring Motor), com velocidade constante e ajustável. As máquinas também passaram a ser melhor construídas e os diafragmas foram melhorados, alguns já produzidos em folha de alumínio duro. No mais, perfumaria: o gramofone Ultraphon alemão com braço duplo (que reproduzia com eco), o Columbia Baby Regent, embutido em uma escrivaninha, ou ainda o Klingsor com cordas na saída da corneta que deveriam ser afinadas para proporcionar ressonância simpatética conforme se reproduzia o disco. Houve, ainda, um fonógrafo de Edison especialmente construído para escolas de idiomas, equipado com a tecla "language repeat", que repetia um determinado trecho da lição gravada.
Veio a gravação elétrica (em 1925) e cada marca adotou um nome comercial. A Victor lançou a Ortophonic Recording, a Columbia a Viva Tonal, a Odeon a Veroton. No mesmo ano a velocidade da gravação foi uniformizada mundialmente em 78 RPM. Os gramofones ainda eram acústicos (sem amplificadores), apesar de já serem montados em móveis com a corneta embutida e compartimentos para armazenar discos.
Um dado curioso: todo aparelho de corneta embutida tinha o sufixo "ola" na marca. Assim o aparelho de Edison que reproduzia os cilindros de amberol era a "Amberola", da Columbia era a "Grafonola", da Odeon era a "Odeonola", da Victor era a "Victrola" (algo familiar?).
O nome Victrola era utilizado para designar o "top" de linha da Victor. No selo "Victrola" gravaram Caruso, Schipa, Heifetz e Paderewsky, entre outros. Vulgarmente, os aparelhos de corneta embutida passaram a ser conhecidos como vitrolas ortofônicas, que nada mais eram que gramofones montados em móveis. A qualidade de reprodução era melhor, mas ainda deixava a desejar. Ainda em 1925, a Radio Corporation of America (RCA) lançou o "Radiola 104", um alto falante para rádios desenvolvido pela General Electric Co., que daria o impulso necessário ao surgimento da máquina falante elétrica.
NIPPER: O MELHOR AMIGO DA VICTOR
Uma pintura de um cão terrier ouvindo um gramofone foi uma das mais bem idealizadas estratégias de marketing do século XX. Trata-se da obra "A voz do dono" (His Master's Voice) de Francis Barraud, cuja história é bastante interessante.
Francis Barraud foi um pintor inglês, hoje pouco conhecido, que exibia com freqüência suas obras na Royal Academy de Londres. Talvez sua vida não teria hoje maior interesse em ser divulgada se não fosse sua obra que mostra um aparelho sonoro e um animal de estimação, tão diferente das paisagens, retratos e naturezas-mortas tão comuns no mundo de pintores como ele...
Tudo começa em 1899. O irmão de Barraud havia falecido, deixando Francis como legatário de um fonógrafo com um pequeno estoque de cilindros gravados, alguns com sua própria voz. Além do aparelho, Francis foi incumbido de cuidar de seu cãozinho terrier chamado "Nipper". Todas as vezes que Francis Barraud colocava um dos cilindros gravados com a voz do irmão, o pequeno Nipper reconhecia a voz do falecido dono e imediatamente vinha ficar junto ao fonógrafo. Barraud quis registrar a curiosa situação em um quadro.
No início, a pintura de Barraud mostrava o cão ouvindo o fonógrafo de cilindros (fabricado por Edison). Concluído o quadro, Barraud foi incentivado a procurar Edison, para lhe vender a idéia como um emblema para os seus produtos, como prova da fidelidade de seus fonógrafos, que faziam até mesmo um cão reconhecer a voz do dono gravada.
Edison rejeitou a idéia, não queria comparar os consumidores a animais. Entretanto, um gerente de uma loja de fonógrafos de Londres, revendedora da "The Gramophone Company", G.B. Owen, incentivou Barraud a substituir o fonógrafo de Edison pelo Gramofone de Emile Berliner (proprietário da "The Gramophone Co." ou "Victor Talking Machine Co. nos EUA) e, desta vez, procurar a empresa de Berliner e esquecer a oposição de Edison a sua idéia. Owen lhe emprestou um dos Gramofones modelo "improved", à venda em sua loja, para servir de modelo na pintura.
Nipper e o Gramofone, na pintura intitulada "A voz do dono", passaram a ser marca registrada em 10 de Julho de 1900, de propriedade de Emile Berliner que começou a utilizá-la em seus produtos, tornando-se líder de mercado, imagem até hoje utilizada pela RCA (atual proprietária da marca Victor).
Enquanto Nipper fazia sucesso, Edison insistia em usar sua assinatura e sua própria efígie como logomarca... Convenhamos, qual das duas imagens é mais atrativa? A resposta está em qual das marcas sobreviveu.
(mantido as fontes)
terça-feira, 7 de abril de 2009
A Gravação do Som – Tipos de Suportes Sonoros - Post 4
Marcadores:
a voz do dono,
Fancis barraud,
fonografo,
gramophone,
Nipper,
o melhor amigo da vivtor,
Rádio
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário