sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Gravação do Som – Tipos de Suportes Sonoros - Post 3

O Fonógrafo no Brasil

A Casa Edison do Rio de Janeiro

O sucesso comercial do fonógrafo foi rápido no Brasil. Como vimos anteriormente, Thomas Edison já havia obtido a permissão imperial para comercializar sua máquina no Brasil ainda em 1878 (apenas um ano após sua invenção).

Em agosto de 1891, Frederico Figner embarca para o Brasil, levando em sua bagagem um fonógrafo elétrico que funcionava com pilhas, além de cilindros virgens - o embrião da futura Casa Edison do Rio de Janeiro (assim batizada em homenagem a Thomas Edison).

O grande mérito de Frederico Figner foi seu pioneirismo na comercialização de fonógrafos e gravações no Brasil. A Casa Edison, além de casa comercial, também realizava gravações, muitas das quais marcaram a história. Não é exagero dizer que uma boa parte da história do Brasil dos primeiros anos do século XX ficou gravada nos discos e cilindros de Figner. Ao longo de sua existência, a Casa Edison teve poucos concorrentes, que nunca chegaram sequer a igualá-la.

Apenas para exemplificar: gravações como "Rato, Rato" e "Febre Amarella são alusivas ao caos da saúde pública e a luta de Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, já o "Pega na Chaleira" aborda os bajuladores do deputado gaúcho Pinheiro Machado e "Ai Philomena" é uma sátira ao azarado presidente Hermes da Fonseca. Uma das mais célebres gravações da Casa Edison é "Pelo Telephone", gravado em 1917, considerado por alguns pesquisadores como o primeiro registro de um samba no Brasil.

Com a Casa Edison surgiram os primeiros artistas do disco, como Cadete, Bahiano, Eduardo das Neves e Alfredo Silva. Instrumentistas como Patápio Silva e Casimiro Rocha, formações como a banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e a própria banda da Casa Edison. Vicente Celestino faria sua primeira gravação: "Flor do Mal", em 1915, para a Casa Edison.

Contudo não é da empresa de Figner o mérito de ter colhido a primeira gravação de Francisco Alves e sim da gravadora "Disco Popular", de propriedade do filho de Chiquinha Gonzaga. Os dois lados gravados pelo estreante Chico Alves foram "O Pé de Anjo"e "Falla meu Louro", hoje o disco brasileiro mais disputado entre os colecionadores. Como vimos anteriormente, as ceras eram gravadas e enviadas ao exterior para se transformarem e discos (à época chamados de chapas). Em 21 de dezembro de 1912 era prensado o primeiro disco totalmente produzido no Brasil. Era o início das atividades da Fábrica Odeon no Brasil.

Os cem anos da Casa Edson 1902 a 2002

Fundada por Fred Figner, um tcheco naturalizado americano que aqui desembarcou ainda no século XIX, trazendo na bagagem um fonógrafo para exibição pública, a Casa Edison foi a primeira gravadora comercial do Brasil. Gravava cilindros de cera e discos, vendia fonógrafos, partituras, instrumentos musicais e outras mercadorias importadas.

Antes de se estabelecer com a Casa Edison, Figner viajou por boa parte do Brasil promovendo exibições públicas de seu fonógrafo, tendo, inclusive, feito uma demonstração à Família Imperial. Acabou por fixar-se no Rio de Janeiro, dedicando-se ao comércio de artigos importados, ligados ao ramo musical, como fonógrafos, fonogramas, partituras, etc. Já antes do advento da Casa Edison Figner gravou comercialmente alguns cilindros no Rio de Janeiro, editando um catálogo comercial em 1900, rotulado apenas por "Importação Directa Fred Figner".

Embora haja alguma controvérsia, é considerado como o marco inicial das atividades daquela casa comercial/gravadora a edição do catálogo para 1902, onde pela primeira vez se vê anunciado o nome "Casa Edison".

O trabalho de Figner e sua empresa revelaram nomes hoje desconhecidos como "Bahiano", "Cadete" e Eduardo das Neves, mas também outros conhecidos até hoje, como Patápio Silva e Vicente Celestino. É uma gravação da Casa Edison o célebre "Pelo Telephone" de Donga e Almeida, gravado por Bahiano em 1917, considerado por muitos como o marco inicial na história do Samba. O pioneirismo de Figner foi o responsável não só pela popularização dos equipamentos fonográficos, como também pela divulgação da música brasileira. Além de vender gravações, partituras e outros artigos pelo catálogo que editava, Figner também editava um tablóide informativo (não se tratava de catálogo) sobre a música brasileira de então, enfocando principalmente os músicos e intérpretes que gravavam para a casa Edison.

Embora o espírito empreendedor de Figner seja hoje reconhecido como notável, foi ele também alvo de severas críticas na época, dentre elas a de Chiquinha Gonzaga, que o acusava de monopolizar o mercado musical e sonegar direitos autorais:

-"Olhe, eu levantei essa questão dos direitos autorais. Estou cansada de ser explorada. Precisamos de que tenham por nós um pouco de consideração. Olhe o Figner só com um tango meu, em chapa, fez mais de 30 contos. E eu nada!" (Chiquinha Gonzaga - Gazeta de Notícias - RJ - 07/01/1913 - pg. 04) fonte: Registro Sonoro por Meios Mecânicos no Brasil - Humberto M. Franceschi-Studio HMF 1984. (materia atual até hoje, haja visto a cópia de MP3 na Internet)

Enfim, sem ainda o advento do rádio e com os meios de comunicação de alcance restrito da época, foi Figner e a Casa Edison os responsáveis pelo início da comercialização fonográfica da música popular brasileira. Outras surgiriam ainda contemporâneas ao empreendimento pioneiro de Figner, como a "Casa Ao Bogary", a "Disco Popular" e a "Casa Faulhaber", mas não há exagero em dizer que na verdade, tudo começou na Rua do Ouvidor, 107, no Rio de Janeiro.

(Mantido os Créditos)