A Gravação do Som – Tipos de Suportes Sonoros - Post 1
A história da gravação começa nos primeiros anos do séc. XIX, quando Thomas Young conseguiu obter a tradução gráfica das vibrações sonoras, através de um aparelho batizado de vibroscópio, que registrava a vibração de um diapasão. Logo em seguida, o francês, Edward Leon Scott de Martinville conseguiu por meio de seu aparelho, que chamou de fonautógrafo, registrar graficamente a vibração da voz, sem ser possível ainda, reproduzí-la. Finalmente foi Charles Cros (e não Thomas Edison) quem idealizou, sem, contudo chegar a construir, a primeira máquina que prenderia e libertaria sons, ou seja, gravaria e reproduziria.
Edison construiu, então, com completo êxito, o primeiro armazenador de som da história - o fonógrafo. O aparelho empregava uma folha de estanho presa a um cilindro, o qual era impressionado por uma agulha movida por um diafragma de mica, seguindo os princípios de Martinville.
Assim aconteceu: Em Nova Jérsei, mais precisamente em Menlo Park, no ano de 1877, nasceu a primeira máquina falante que realmente funcionava: o Tin-Foil Phonograph. A primeira gravação do mundo foi um poema, intitulado Mary had a little lamb, recitado pelo próprio Edison.
"Mary had a little lamb
Its fleece was as white as snow"
Ironicamente, o fonógrafo era trazido ao mundo pelas mãos de um homem que, graças a um acidente na infância, ficara praticamente surdo.
Os cilindros com folha de estanho deram lugar aos de cera, que podiam ser gravados e desgravados, como nossas atuais fitas magnéticas.
O fonógrafo foi um sucesso comercial.
Paralelamente, o alemão Emile Berliner desenvolveu com êxito o sistema de gravação em disco através de sua máquina, o Grammophone, que possibilitou a produção de várias cópias a partir de uma matriz (com os cilindros isso não era possível).
O material mais usado para a fabricação do disco era uma massa largamente empregada até 1948, composta de acetato de celulose, colofônia (resina de jatobá ou cera de carnaúba no Brasil), negro de fumo, gesso e goma laca. Eram discos pesados, duros e quebradiços.
O Brasil descobriu o fonógrafo bem cedo, já nos tempos do Império. Edison receberia autorização imperial para comercializar fonógrafos no Brasil ainda em 1878 (o fonógrafo foi inventado em 1877!).
Contudo, o fonógrafo somente se transformaria em sucesso comercial por aqui pelo trabalho de um imigrante chamado Frederico Figner que fundou a Casa Edison do Rio de Janeiro, a primeira gravadora brasileira.
Surgiam os primeiros cantores de música popular a gravar comercialmente, eram: Bahiano, Cadete, Mário Pinheiro e Eduardo das Neves. Alguns grupos musicais também se destacaram, como a banda do Corpo de Bombeiros da cidade do Rio de Janeiro e o conjunto dos Oito Batutas, que incluía entre seus componentes dois jovens conhecidos como Donga e Pixinguinha.
Comparando-se às facilidades de hoje, editar um disco no Brasil de 1902 era um ato de heroísmo. O sistema de gravação era mecânico, ou seja, o intérprete tinha que cantar ou tocar próximo a uma corneta. O técnico de som da época era um indivíduo que ficava ao lado do intérprete, segurando-o pelo ombro, com a finalidade de afastá-lo no momento de um agudo potente ou aproximá-lo da corneta nos trechos mais suaves da música.
Gravada a cera, a mesma era enviada à fábrica na Alemanha para se transformar em disco. Finalmente, ao cabo de cerca de seis meses, o disco estava nas prateleiras.
O mais prático, porém, era gravar cilindros que, enfim, não precisavam cruzar o mar.
Contudo, como vimos anteriormente, cada cilindro era gravado individualmente, forçando o cantor a cantar trinta vezes se tivesse que gravar trinta cilindros. Com o tempo, uma corneta de gravação que alimentava vários cilindros minimizou o problema, mas o intérprete ainda era obrigado a gravar a mesma coisa um extenuante número de vezes. Se se tratasse de gravação de bandas ou conjuntos musicais, todos os integrantes tinham que tocar amontoados diante da corneta. A isso se some o clima quente do Rio de Janeiro, com todos ocupando a mesma sala fechada.
Em 1948, Peter Goldmark lançou o LP. O ruído diminuiu e a fidelidade foi aumentando com o aperfeiçoamento técnico até surgir, na década de 80, o Compact Disc que, com todo o avanço que significou, ainda é um suporte de gravação que depende do movimento para reproduzir.
A seqüência, então, foi o cilindro de Edison (Tin-Foil Phonograph) o disco de Berliner (Grammophone), o LP de Goldmark, o CD, o HD (Hard Disk) dos computadores e as memórias flash (que não se movem como a do seu MP3). Tudo indica que a memória eletrônica substituirá os suportes que dependam de movimento, com as vantagens óbvias da ausência do desgaste, que acaba por corromper o sinal gravado.
(Segue....)
Material parcialmente transcrito de:http://www.jornalmovimento.com.br/arquivo.htm
Marcelo de Almeida é advogado, pesquisador e restaurador de discos Marceloalmeida@jornalmovimento.com
sábado, 28 de março de 2009
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